Damares Alves provoca nova polêmica ao criticar regra do Sisu


Após dizer que menino veste azul e menina veste rosa, atual ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos criticou possibilidade de estudante se candidatar a vaga universitária longe de onde a família mora.







Depois da cor das roupas de crianças, ministra provoca nova polêmicaA ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos se envolveu numa nova polêmica. Depois de dizer que menino veste azul e menina veste rosa, Damares Alves criticou a regra do Sisu que permite ao estudante se candidatar a vaga universitária longe de onde a família mora.


A ministra Damares Alves falou sobre o Enem e o Sisu durante uma entrevista na noite desta quinta-feira (3) à Globonews. Não foi a primeira vez. Na terça-feira (1º), quando assumiu o cargo, Damares já tinha criticado a possiblidade de estudantes que fazem o Enem irem para universidades fora dos estados onde moram; porque ficam longe da família, segundo ela.


Na entrevista, Damares reafirmou seu entendimento: “O menino lá do Rio Grande do Sul faz o Enem, ele passa no vestibular para medicina lá no Amapá, que é o grande sonho dele e da família. Esse menino é tirado do contexto. Às vezes tem apenas 16 anos. Será que nós não poderíamos estar começando a pensar em políticas públicas, que este menino ficasse um pouco mais próximo da família? 'Ah, mas em outros países acontece'. Mas nos outros países o papai tem dinheiro para ir lá na universidade visitar de vez em quando o filho”.


O Sistema de Seleção Unificada do Ministério da Educação, o Sisu, permite que estudantes aproveitem a nota do Enem para estudar em universidades de todo o país e não somente onde eles fizeram a prova.


Ainda na entrevista à Globonews, Damares Alves foi questionada se é papel do governo tratar de questões familiares, pessoais. Ela voltou a defender a atuação do Estado para fortalecer a união familiar: “O Estado não pode se omitir com relação ao enfraquecimento dos vínculos familiares. Nós estamos vindo com essa proposta. Sem interferência do Estado, mas o Estado podendo proporcionar políticas públicas de fortalecimento dos vínculos. E se o governo Bolsonaro se propõe a fazer isso, eu acredito que ele está no caminho certo, porque os modelos anteriores não estavam dando muito certo”.



Ao ser confrontada, na entrevista, sobre como seria possível fazer isso, a ministra não apontou nenhuma medida concreta. Disse que não era uma crítica ao Enem, e sim, uma ideologia de proteção à família. O ministério de Damares não cuida do Enem. É uma atribuição do Ministério da Educação.


A assessoria do ministro da Educação, Ricardo Velez Rodrigues, informou que "não cabe ao MEC comentar falas de ministros de outras pastas do governo".


Em 2017, 10% do total de matriculados em instituições federais, mais de 31 mil alunos, estudavam fora dos seus estados de origem.


Sair de casa atrás do sonho da universidade é uma realidade, não só no Brasil, mas em vários países. Nos Estados Unidos, é comum e até estimulado que os adolescentes estudem em outros estados, mesmo que isso custe mais caro.


A Doralice veio de São Paulo para estudar na Universidade de Brasília. Está cursando ciências sociais na UnB por meio do Sisu, usando a nota do Enem. É a primeira da família a entrar numa universidade.


Doralice diz que, longe de casa, está amadurecendo: “Você está longe da família, você precisa... Você tem uma liberdade muito grande, mas que demanda muita responsabilidade também. Você é responsável por si. Então, isso é um crescimento. Acho que é uma experiência única na vida de um estudante”.


Cleyton Gontijo, professor da Universidade de Brasília, criticou as declarações da ministra. Ele diz que Damares está questionando o direito de fazer escolhas individuais e reforçou que a fase acadêmica é o início da vida adulta.


“Eu acredito que foge um pouco desse discurso do que a gente pretende que é, de fato, do desenvolvimento. É o desenvolvimento pessoal, acadêmico, profissional. Do amadurecimento para a vida e para toda a sua realidade. Os vínculos com a família são extremamente importantes, mas hoje a família pode estar próxima do estudante, acompanhá-lo no seu dia a dia, necessariamente sem estar fisicamente ao lado. A fala da ministra, ao meu ver, pra se traduzir de maneira prática, seria apenas cerceando o direito de escolhas, reduzindo aquilo que hoje o Sisu já permite, que é escolher uma universidade fora da região onde o estudante resida. Ou seja, em qualquer lugar do Brasil”, afirma.

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